Coringa

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Coringa é daqueles filmes que marcam a história do cinema. É a dubiedade na tela o tempo todo, deixando o espectador agarrado às cenas, ao mesmo tempo sabendo o que virá (devido ao conhecimento prévio sobre um dos maiores vilões da cultura pop), mas em hesitação se será exatamente naquele momento. É sujo e transgressor, dois adjetivos que podem ser positivos ou negativos, e neste caso são a alma do personagem e de sua obra.
Está aberto um novo caminho no cinema para super-heróis, que de heróis têm nada. O diretor Todd Phillips (que assina o roteiro com Scott Silver) acertadamente situa a trama (produção de Bradley Cooper, que tem acertado em sequência!) no final dos anos 1970 e início dos 1980, sem qualquer outro vilão do universo de Batman e com um Brune Wayne ainda menino. Foco total no Coringa. Gotham City está tomada por uma greve de lixeiros – e o lixo toma conta da alma das pessoas.

É nos mesmos 1970 e 1980, mas no cinema, que o diretor busca suas referências. Deixa de lado as histórias em quadrinhos e procura inspiração em Martin Scorcese. Táxi Driver com seu personagem-título alienado e frustrado. Rei da Comédia com um comediante fracassado que tenta participar de todo jeito de um programa de televisão no estilo talk show. São estímulos evidentes, ainda mais ao colocar em tela Robert De Niro, que por oito vezes estrelou filmes de Scorcese, para assumir o papel (invertido de Rei da Comédia) de um apresentador de TV idolatrado pelo protagonista.
O estilo Scorcese está todo ali, mas não só. Há também Stanley Kubrick com seu Laranja Mecânica tresloucado. Alex, o personagem principal dos infernal grupo de Laranja, é um carismático sociopata. E este carisma está pleno em Arthur Fleck, que aos poucos se transforma em Coringa.
Aliás, o carisma de Coringa tem levado a discussões fora da tela sobre a violência apresentada dentro dela. É evidentemente um filme que trata um assassino, um louco, um homem mau como um produto de múltiplos fatores, entre eles a injustiça da sociedade. Seria vítima? Nos Estados Unidos há indicações para boicotar o longa nos cinemas. Já houve tal debate em outras épocas, com o próprio Laranja Mecânica e até Clube da Luta. Mas controlar a sociedade é tudo o que o filme se mostra contra, um erro sem volta. Se há loucos a solta por aí, e claro que há, será com um filme ou com um tropeço na calçada que eles irão agir. É bom que a sociedade se atente a situações que são um gatilho para a ação.

Joaquin Phoenix entrega a melhor atuação de todos os tempos como o palhaço assassino. Melhor que Heath Ledger e melhor que Jack Nicholson (o melhor até este 2019) nas encarnações anteriores do personagem. Além da parte física (Arthur Fleck está magro ao extremo, sofrido), Phoenix incorpora uma risada satânica marca registrada nas HQs, mas pouco explorada no cinema.
A dubiedade sobre Coringa pode ser resumida nesta risada. Seria uma doença (um problema que existe e é chamado de Afeto Pseudobulbar) ou apenas uma muleta para a insanidade mental de Arthur? A cena em que ele controla a gargalhada forçada ao deixar a visão de colegas palhaços aponta que se trata de algo metódico. Porém, ao encarar dois detetives e responder sobre o riso, convence com uma indignação irremediável.
Outra dúvida: a espécie de namorada de Arthur é real ou um produto de sua mente doentia? As dúvidas captam a atenção e não desgrudam da mente. E o espectador fica louco por saber o que é real ou imaginação. E de loucura o tal Coringa entende. Ou não?
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Coringa / Joker
CLASSIFICAÇÃO: PARE TUDO E VÁ VER!
Ficha técnica:
Ano:2019
Duração: 122 min
Direção: Todd Phillips
Roteiro: Scott Silver e Todd Phillips
Elenco: Joaquin Phoenix, Robert De Niro, Zazie Beetz, Frances Conroy e Marc Maron
Gênero: Drama
Olha, é muito bom, mas confesso que esperava mais. Rs… Talvez seja a questão da expectativa. Filmes assim tão esperados devem ser assistidos no primeiro fim de semana, pra não dar tempo de ouvir muito sobre ele antes de assistir…