O Oscar 2023 chega neste domingo com uma lista eclética de filmes, como poucas vezes visto. À máxima premiação, de melhor filme, concorrem Nada de Novo no Front, Avatar: O Caminho da Água, Os Banshees de Inisherin, Elvis, Tudo em Todo o Lugar ao Mesmo Tempo, Os Fabelmans, Tár, Top Gun: Maverick, Triângulo da Tristeza e Entre Mulheres. Mas não são apenas estes os melhores filmes do ano.
Dou minha opinião sobre os que assisti, com um bônus de A Baleia, que não está na categoria Filmes do Oscar (concorre em Ator, Atriz Coadjuvante e Maquiagem/Penteados), mas deveria.
Elvis
Foram quase três anos de preparação para Austin Butler protagonizar Elvis, a cinebiografia do rei do rock. Por este período, o ator diz ter ficado obcecado, se dedicando quase exclusivamente ao personagem. Foram treinos de canto, dança, dicção e até tom de voz. Este é um dos exemplos de como o longa-metragem é grandioso. Não o único.
Elvis é uma superprodução. Com Butler e Tom Hanks no comando – o veterano astro interpreta o empresário “Coronel” Tom Parker -, traz um show de cores, luzes, gritos e cortes rápidos. Há cenários grandiosos e uma trilha sonora agitada. Este estilo é mérito de Baz Luhrmann, o diretor. Ele de cara já impacta com este jeito estravagante. Daí para a frente, não há descanso.
É um filme ousado, ao estilo Luhrmann, que esteve por trás de “O Grande Gatsby” e “Moulin Rouge: Amor em Vermelho”.
Top Gun: Maverick
Top Gun – Maverick é machista, os aviões são objetos fálicos, a história é uma apologia à guerra. Teorias e mais teorias para criticar um dos melhores filmes do ano. O longa de 2022 é maior que essas críticas, é ótimo, uma aula de como fazer uma sequência sem desrespeitar o original (o que não é comum).
O saudosismo é o principal chamariz para o filme. E isso é incrível! Acontece uma das mais importantes homenagens do cinema a um ator. Debilitado por um câncer de garganta, Val Kilmer faz uma participação para lá de especial, tocante.
O que importa é que Top Gun – Maverick tem ação, nostalgia, roteiro, direção e interpretações. Pacote completo! Um filme a ser aplaudido.
Triângulo da Tristeza
Vencedor da Palma de Ouro no Festival de Cannes 2022. Ao acompanhar os modelos Carl e Yaya em um iate cheio de ricos, é mostrado um completo estudo humano. É meu favorito para este ano. Uma “sociedade” surge com peculiaridades de gerar vergonha alheia. Peculiaridades verdadeiras, mostradas com sutileza, aos poucos, mas com um certo escracho. E é aí que o filme ganha muitos pontos.
Estão na tela pessoas que vemos no nosso dia a dia, que são idiotas, que humilham os outros, que jogam dinheiro pela janela. Em resumo, mostra-se como o poder, neste caso financeiro, transforma muitas pessoas, que nem percebem o quão ridículas são.
As características de um sistema perverso em que os milionários nem olham para os pobres são mais do que claras em Triângulo da Tristeza. E o pior é que eles pensam que olham.
Tudo em Todo o Lugar ao Mesmo Tempo
Mãos com dedos de salsicha. Pedras com olhos. Chef que conta com a ajuda de um guaxinim dentro de seu chapéu. Tudo isso em muitos, milhões, de universos, um multiverso quase que infinito. Tudo em Todo o Lugar ao Mesmo Tempo é o filme com mais indicações ao Oscar deste ano, onze. Escrevendo assim, parece que o filme é só isso, mas não. Tem atuações de primeira, comédia, drama, artes marciais, mas no fim é uma história de amor. Trata de aceitação, própria e dos outros.
Há quem trate o longa como revolucionário. E há detratores que o classificam como confuso. É ambos.
Nada de Novo no Front
É um remake de um filme lançado em 1930 e que abocanhou o Oscar de filme e direção, baseado em livro homônimo de Erich Maria Remarque. Nesta época, causou polêmica por ser a visão dos Estados Unidos sobre as tropas alemãs na Primeira Guerra Mundial. A primeira exibição pública em Berlim, por exemplo, foi interrompida por protestos do público. Joseph Goebbels, futuro ministro da Propaganda de Adolf Hitler, estava presente e discursou acusando o filme de tentar destruir a imagem da Alemanha.
A versão desde 2023 dá lugar de fala aos alemães. É uma produção do país. Mas nem por isso alivia ou altera a história. O filme mostra um grupo de jovens que chegam empolgados à guerra, acreditando na fantasia de líderes alemães. E aos poucos, no dia a dia das batalhas, veem a dura realidade.
É um bom filme, mas não supera outros de temática igual, como o excelente 1917, de três anos atrás.
A Baleia
A tão falada interpretação de Brendan Fraser realmente é digna de Oscar. Mas A Baleia é mais do que isso. É a junção de grandes interpretações, no plural mesmo, e um roteiro fechadinho, bem encaixado. Adaptação da peça escrita por Samuel D. Hunter (ele responde pelo roteiro), The Whale (no original) é todo passado dentro da casa de Charlie (Fraser), professor de aulas online que não consegue se locomover bem por conta de obesidade mórbida. Sua saúde está cada vez mais debilitada, causando preocupações em sua única amiga, Liz (Hong Chau).
Aí está outra que merece disputar o Oscar (ainda bem que a Academia de Hollywood reconheceu e a indicou). Hong Chau está incrível como a enfermeira amiga de Charlie. Séria, preocupada, emocionada… e emocionante. Em cena, os dois não precisam de companhia.
A Baleia é um filme imperdível nesta temporada. Primeiramente pelas interpretações, mas também pelo tema e pela forma que explora assuntos tão sérios como obesidade e homossexualidade, com o ainda presente preconceito que acompanha. Pena que não foi indicado pela Academia de Hollywood a melhor filme para o Oscar 2023. Seria forte concorrente.