Que Horas Ela Volta?
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Uma amiga indicou, insistiu, confirmou, disse que havia sido o melhor filme de 2015. E eu com um pé atrás. Mas dei o voto de confiança e, com tanta recomendação, assisti a “Que Horas Ela Volta?”. Ela tinha razão!
A simplicidade é a marca deste longa, que cativa aos poucos. O roteiro é fácil, mas pega o espectador pelos detalhes. Anna Muylaert (Durval Discos, que odiei, e É Proibido Fumar, que gostei) sabe o que faz. A história é toda centrada em Val, empregada doméstica vivida de maneira esplêndida por Regina Casé.
Há anos na labuta para uma família de elite em São Paulo, ela não vê sua filha há 10 dez anos. Mas quando Jéssica, em interpretação também ótima de Camila Márdila, sai de Pernambuco para prestar vestibular em São Paulo, o reencontro com a mãe se transforma numa revolução de classe dentro do casarão.
Mas não pense que será uma luta escancarada. É tudo muito sutil. E aí o filme cresce.
Val é bem tratada na casa que trabalha, e dorme, mas é um jeito típico de bem tratar, que propõe uma reflexão para quem está em frente à tela.
O sorvete é o melhor exemplo. O pai da família pede para a funcionária pegar um sorvete que está a menos de 5 passos dele. É algo comum para ele. Já o filho, tratado com todo o carinho por Val (ele retribui este carinho), tem o seu sorvete, só seu, que a empregada não pode tocar. A mãe, que acredita ser a mais benevolente com Val, é quem checa e mais se incomoda se a “do lar” der uma colherada na opção do “menino”.
Regina Casé interpreta a nordestina Val sem afetação. Foge do estereótipo. Ela sustenta o filme. Camila Márdila completa dupla bastante à vontade em cena, com um toque de revolta, ou talvez sem compreender a inteligência da mãe.
Karine Teles é a mãe da família. Cara nova (pelo menos pra mim), que vai bem. Não gostei de Lourenço Mutarelli, o pai. E olha que gosto dele. Está destoando dos demais. Michel Joesas, que surgiu no bem bom “Que Ano que Meus Pais Saíram de Férias?”, o garoto adorado por Val agora, é competente.
Há a crítica à classe rica, tão em moda no Brasil atual, muitas vezes sem consistência? Sim. Mas vem bem tratada.
A obra foi a escolhida pelo Brasil para o Oscar, mas não entrou. Talvez porque a situação de uma empregada doméstica em casa não está no dia a dia dos americanos. Azar da premiação.
É de maneira miúda, mas marcante, que “Que Horas Ela Volta?” entra para um rol de filmes brasileiros sensacionais.
Que Horas Ela Volta?
CLASSIFICAÇÃO: PARE TUDO E VÁ VER!
Ficha técnica:
Direção: Anna Muylaert
Elenco: Regina Casé, Camila Márdila, Helena Albergaria, Michel Joesas, Karine Teles e Lourenço Mutarelli
Duração: 114 min.
Ano: 2015
Gênero: Drama
