Cavalo de Santo
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Porto Alegre é a capital das religiões afro-brasileiras. O Rio Grande do Sul é o estado que abriga a maior quantidade de casas de culto do Brasil. Informações que logo de início captam a atenção de quem assiste a Cavalo de Santo, documentário que neste momento concorre no Festival de Gramado, a mais importante premiação do cinema brasileiro.
Talvez a surpresa seja deste paulistano que, como muitos, crê que a Meca das religiões afro-brasileiras seja Salvador e seu estado, a Bahia. É neste acerto de informações que o longa acerta de cara.
Baseado em livro de fotografias Cavalo de Santo – Religiões Afro-Gaúchas, lançado por Mirian Fichtner em 2011 (os dados são do último Censo Demográfico, de 2010), o filme de 70 minutos quebra estereótipos. Por isso, é muito interessante que o Canal Brasil agora o leve a todo o país, rompendo as barreiras gaúchas.
Miriam dirige a obra, o que traz uma estética incrível às cenas. A parceria dela é com o produtor Carlos Caramez, que também atuou como coordenador editorial do livro.
“É quebrar estereótipos como o de que o Rio Grande do Sul era um pedaço da ‘europa brasileira’. Mostrar a África que nos habita. O assunto ainda continua causando espanto e incredulidade aqui e mais ainda no restante do Brasil”, disse Fichtner ao portal GaúchaZH.
Ela tem toda razão.
Aliás, o filme traz muito bem a figura do finado poeta Oliveira Silveira, idealizador, junto com o extinto Grupo Palmares, do Dia da Consciência Negra.
Outro acerto do documentário é a comparação entre as religiões Batuque, Umbanda e Quimbanda. Se a Umbanda é mais conhecida no Brasil, pouco se sabe sobre a Batuque fora do Rio Grande do Sul. Muito bem explicada é sua raiz. Batuque é “um irmão do Candomblé”, aponta o documentário, uma religião fundada no estado.
Já a Quimbanda, pode-se dizer, é a união de Umbanda e Batuque, com toques ciganos.
Em certo momento o filme une religião a um debate sobre a importância do negro no sul do Brasil. E o racismo é lembrado. Não poderia ser diferente, outro ponto positivo do longa.
As captações das imagens ocorreram de 2014 até o início de 2020. Três entrevistas foram feitas em 2021. Entre o livro, de 2011, e o filme, muito mudou, segundo Caramez ao mesmo GZH. “Só fui entender o que é racismo estrutural quando comecei a documentar este assunto. Constatei que o racismo se manifesta de diversas formas e que a invisibilização das heranças africanas é muito forte na sociedade brasileira até hoje. Existe uma dívida impagável da humanidade com a população negra escravizada. Houve avanços, mas muitos retrocessos também. No filme, abordamos esta questão”.
Se há algo a criticar é que após as surpresas, o ritmo cai, especialmente no terço final do longa. Mérito para os diretores Fichtner e Caramez terem estipulado só os 70 minutos, pois os 20 minutos finais mostram-se repetitivos.
Nada que comprometa essa incrível documentário sobre a cultura gaúcha, a cultura brasileira. Um alerta à verdade e ao respeito necessário às religiões – todas elas.
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Cavalo de Santo
CLASSIFICAÇÃO: DUCA
Ficha técnica:
Ano: 2021
Direção: Mirian Fichtner e Carlos Caramez
Duração: 70 min.
Gênero: Documentário