O Mestre e o Divino

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Sem meias palavras: documentário sobre índios costuma ser chato. Já me dá um frio na espinha quando aparece uma oportunidade de ver algo com tribos, danças e costumes. É aquela mesmice, nada de novo, algo que só agrada antropólogos. Mas não é que me pegaram de surpresa? Ontem fui ao lançamento de quatro documentários, dentro do projeto Histórias que Ficam, idealizado pela Fundação CSN. A organização definiu que um deles seria exibido à plateia: O Mestre e o Divino. Mudei de pensamento!
Primeiro trabalho de Tiago de Campos na direção, o documentário aborda a relação entre dois cineastas, no mínimo, inusitados. O Mestre é Adalbert Heide, um alemão que desde 1957 vive entre índios em uma aldeia Xavante do Mato Grosso. O outro, Divino, é o primeiro xavante a pegar uma câmera e colocá-la para trabalhar.
O longa é focado na relação e na história dos dois. A câmera não sai deles. E nem deveria. Hoje amigos, Adalbert (que na tribo é o Tsa’Amri, algo como “montes altos” ou “o elevado”) e Divino foram professor e aluno. O alemão é um missionário que diz ter vivido seu mais feliz momento ao saber que seria enviado para o Brasil. É rabugento, reclama da “concorrência” de Divino – já que ambos filmam as mesas festas e tradições -, mas é também engraçado. Três anos depois de chegar à tribo, ligou uma câmera. E nunca mais parou. Tem gavetas e mais gavetas cheias de fitas, um registro essencial da cultura indígena nacional. Ele conquista com suas tiradas sarcásticas e bem pontuadas.
Já o brasileiro Divino é a linha-mestra do filme, é quem indica os caminhos. Ele é a “memória” do filme, já que não se furta a abrir informações, pois Adalbert mostra-se reticente em alguns momentos.
O projeto da Fundação CSN é diferenciado, o que agregou muito valor à obra. Além de aporte financeiro de R$ 300 mil a cada documentário selecionado, ofereceu um time de renomados profissionais do cinema brasileiro como consultores. E promete lançar os documentários em 20 cidades com mais de 100 mil habitantes. A edição de O Mestre e o Divino é muito boa, o som é de qualidade… tudo está no devido lugar.
“Balões, Lembranças e Pedaços de Nossas Vidas”, “Os Dias com Ele” e “O Prólogo” são os outros três longas premiados. Se seguirem a linha de O Mestre e o Divino, devem ser muito bons.
O Mestre e o Divino
CLASSIFICAÇÃO: DUCA
Ficha técnica:
Gênero: Documentário
Duração: 84 min.
Ano: 2013
Direção: Tiago Campos