Detona Ralph

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Eu: “quero assistir a Detona Ralph. Vamos ao cinema”. Ela: “não, não vale pagar ingresso para animação. Vamos ver um filme melhor”. Eu: “quero ver Detona Ralph”. Ela: “não”. Neste braço de ferro eu saí perdendo. Mas ontem à noite ganhei. Enfim consegui assistir a esta obra-prima de animação! Antes tarde do que nunca.
Sabe Toy Story, com seu roteiro de brinquedos que ganham vida quando humanos não estão olhando? É por aí, mas em máquinas de fliperama. Os personagens dos jogos se cruzam, viram amigos e têm aventuras enquanto a loja de videogames está fechada. No centro da história está Ralph, vilão do jogo Conserta Tudo Felix Jr., que, claro, como o nome aponta, tem Felix Junior como protagonista.
Arrisco-me a escrever: é mais legal que a turma de Woody e Buzz Lightyear. Talvez seja saudosismo dos anos 1980 e 1990, mas os detalhes são tantos que o espectador mais ligado fica simplesmente maravilhado.
Pac-Man, Mario Bros, Sonic, Street Fighter… a lista é enorme. Personagens destes jogos (o próprio Mario não aparece, pois os roteiristas dizem que não conseguiram encaixá-lo no enredo) surgem na tela em situações deliciosas, como, logo no início, em uma reunião de vilões que não se conformam em não serem os bonzinhos da história. É uma espécie de Vilões Anônimos, ao molde de Alcoólicos Anônimos. Ralph está lá, em sua primeira tentativa, e narra sua história. Ele não se conforma em não ter amigos e ficar fora da “turma do bem” de seu jogo, comandada por Felix Junior. Tantos anos só levando a pior, sem qualquer tipo de reconhecimento por parte dos outros “moradores” do game, deixam Ralph deprimido.
A única saída que ele vê é ganhar uma medalha de ouro igual à de Felix, que a recebe ao fim do jogo, depois de consertar, com seu martelo mágico, as detonações de Ralph em um prédio residencial (inspiração clara em Kong, que popularizou o personagem Donkey Kong). E assim vai Ralph em direção à Estação Central (igual à de Nova York, mas localizada no centro do fliperama mesmo), de onde parte atrás de um jogo que dê esta medalha dourada.
Do mundo dos 8 bits onde resiste bravamente, Ralph chega ao moderno jogo de tiro em primeira pessoa ambientado em um planeta alienígena cheio de insetos gigantes voadores. Nada a ver com sua vida! E o resultado não poderia ser outro: confusão. Um pouco à frente entra a grande parceira de Ralph em sua aventura: Vanellope Von Schweetz, uma “menina-bug” que deseja competir no jogo de meninas Sugar Rush, no qual personagens com nomes e caras de doces montam em carros para ver quem chega primeiro (Vanellope seria uma mistura de vanilla com Penelope, aquela charmosa?).
Ponto interessantíssimo do filme é que os personagens de 8 bits aparecem na tela exatamente assim: se mexem, por exemplo, em quadros mais lentos que os mais modernos. É muito boa a cena entre Felix Junior e a Sargento Calhoun, quando ele, em 8 bits, compara a nitidez de sua pele com a dela, com muitos mais pixels. Outra passagem: Q*Bert é um dos personagens com videogames esquecidos e, assim, abandonados à sorte. Eles são espécies de mendigos do mundo de Detona Ralph.
Para as crianças de hoje o filme pode não ser tão legal, mas os adultos atentos certamente se deliciam. Além dos personagens antigos, há situações que aguçam a memória. É o caso, por exemplo, do lago gigante de Coca Diet coberto por estalactites de Menthos, que, misturados, só podem dar uma explosão de líquido e gás. Mais: quando o Rei Doce vai à área da programação (ele é dos malvados na história), usa um controle típico dos videogames da Nintendo.
Detona Ralph não é inovador no conceito – como escrevi, é uma visão muito semelhante a Toy Story. Tampouco é original no tema – adaptações de jogos aparecem nos cinemas desde que Mario entrou pelo cano pela primeira vez. Mas, ressalte-se, o jogo de Ralph não existia até a criação do filme (a Disney o criou para o lançamento: http://disney.go.com/wreck-it-ralph/#/games/fix-it-felix). E mesmo assim o filme consegue ser grande, divertir, captar a atenção… e passar as mensagens de bons comportamentos que a Disney tanto adora. Ah, ainda serve para convencer “ela” a assistir mais animações, inclusive no cinema. Filmaço!
Detona Ralph / Wreck-it Ralph
CLASSIFICAÇÃO: PARE TUDO E VÁ VER!
Ficha técnica:
Ano: 2012
Duração: 108 min.
Gênero: Animação
Direção: Rich Moore
Roteiro: Phil Johnston, Jennifer Lee
Elenco (vozes): John C. Reilly, Jack McBrayer, Jane Lynch e Sarah Silverman, Mindy Kaling