O Poço
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Está difícil achar filme bom na Netflix. Talvez porque eu já tenha assistido aos melhores. Talvez porque faltem lançamentos na plataforma. Talvez porque comédia romântica não é meu gênero preferido. Talvez porque eu não procure direito. Eis aqui uma exceção: o espanhol O Poço é aflitivo, e essa é uma boa característica, pelo menos para quem gosta de filmes assim. Mas vai além: gera reflexão, ainda mais quando o assunto combina tanto com a crise do coronavírus que o mundo está passando.
O longa é todo passado em uma instalação com centenas de andares. Como o título indica, eles estão abaixo da terra. É uma prisão que envia alimentação aos encarcerados, dois por andar, de cima para baixo, em uma plataforma que para rapidamente uma vez por dia em cada nível. Ou seja, os primeiros andares têm banquetes, mas a partir do 50º a comida fica escassa.
Dirigido por Galder Gaztelu-Urrutia, O Poço envolve e incomoda o espectador. A estética repleta de fezes e sangue traz um pouco de terror ao filme de suspense, incluindo cenas fortes que contribuem para o clima tenso.
Em época de quarentena, O Poço é uma opção de entretenimento que trata justamente do isolamento social e de consequências políticas e econômicas. Aí está o principal. Diferentemente do que li em 90% dos sites, o filme é uma crítica ao capitalismo, sim, mas também ao socialismo.
Quem relata é o próprio diretor Urrutia. “Nós certamente pensamos que deve haver uma melhor distribuição de riquezas, mas o filme não é estritamente sobre o capitalismo. Talvez haja uma crítica ao capitalismo no começo, mas nós mostramos que, assim que Goreng e Baharat começam a usar o socialismo para convencer os outros prisioneiros a compartilhar a comida, eles acabam matando metade das pessoas que tentaram ajudar”.
Goreng e Baharat são dois dos personagens que se encontram na parte final da obra. Goreng é o protagonista. Decide ir para a prisão espontaneamente, para ganhar um certificado (que parece ser importante na realidade do filme) ao sair depois de seis meses. Baharat surge como um companheiro de cela que pode ser a chave para mudar a prisão. Será?
Destaque para o ator Zorion Eguileor , que interpreta Trimagasi, primeiro companheiro de cela de Goreng. Incrível! Óbvio.
“O Poço reflete a fria desumanização do mundo em que vivemos,” conclui o diretor. Aí está, realmente, o ponto principal do filme.
Na cena final, aberta a interpretações, a imaginação flui solta. Poderia deixar a mesma sensação de dúvida no espectador, mas de uma forma melhor. No restante, o longa é bom demais.
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O Poço / El Hoyo
CLASSIFICAÇÃO: DUCA
Ficha técnica:
Ano: 2020
Duração: 94 min.
Direção: Galder Gaztelu-Urrutia
Elenco: Ivan Massagué, Zorion Eguileor e Antonia San Juan
Gênero: Suspense