Peões

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Posso dizer que sou admirador do cineasta Eduardo Coutinho. Edifício Master e Jogo de Cena são do balacobaco. Ele é, sim, o maior documentarista brasileiro, pelo menos da atualidade. Mas neste Peões, devo admitir, derrapa.

Em resumo, a obra é uma sucessão de entrevistas com “anônimos” participantes das históricas greves dos metalúrgicos do ABCD, na Grande São Paulo. Mas todos têm apenas duas opiniões: “eu sofri” e “o Lula é o cara”. Só isso, um personagem atrás do outro, sem contextualizar os depoimentos, sem lembrar do acontecido, com o mesmo ritmo, sempre.

Alguns depoimentos são ótimos – e Coutinho sabe como ninguém entrevistar, especialmente com os silêncios (aqueles que deixam a pessoa sem saber o que fazer, a não ser falar). Mas depois de cinco pessoas contando praticamente a mesma história, cansa.

Filmado em 2002, na reta final da campanha que levou Lula pela primeira vez à Presidência da República, fica na cara ser propositalmente uma panfletagem ao então candidato, já presidente quando do lançamento, em 2004. Nenhum problema, pois acho que o cinema comporta todas as formas, independentemente da preferência política. Mas desde que, no mínimo, entretenha. Neste caso, repito, a mesmice dá sono.

O documentário foi lançado simultaneamento a Entreatos, que aborda a campanha eleitoral de Lula em 2002 e é mais interessante, mostrando os bastidores de uma corrida presidencial. Peões é também bastidores, mas de pessoas que quase ninguém conhece. Os dois, que deveriam se complementar, ficam chatíssimos juntos, com horas de horas de depoimentos, depoimentos, depoimentos… Lula, Lula, Lula.

Claro, Peões deve agradar quem participou do movimento, as 140 mil pessoas que, segundo os organizadores de então, cruzaram os braços. Mas para por aí. O resto que não assista? É… pode ser.

Peões

Ficha técnica:

Direção: Eduardo Coutinho
Duração: 85 min.
Gênero: Documentário