Polissia
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Conheci este filme por causa do blog 50 Anos de Filmes, que o Sérgio Vaz mantém (se você não conhece, corre lá – precisa ser acompanhado por quem gosta de cinema). Sua dica sobre Polissia traz adjetivos como “extraordinariamente bem realizado… duro, pesado, amargo, desconcertante, apavorante”. Obrigatório assistir, pensei eu. E é mesmo.
O longa traz um tema que não é novo no cinema, e sempre provoca aflição (além de ótimos filmes): pedofilia. Mas desta vez não se foca no sofrimento do acusado injustamente (como no espetacular A Caça) ou da família (o incrível Confiar) ou da vítima. Mostra-se o dia a dia de quem lida profissionalmente com este tema, policiais do Batalhão de Proteção aos Menores de Paris.
Mais do que um filme policial, que pode ser assim creditado somente pelo envolvimento da corporação parisiense, é um drama. Não à toa abocanhou o Grande Prêmio do Júri no Festival de Cannes de 2011. Ganha pontos ao exibir como situações de abuso de crianças influenciam na vida dos policiais envolvidos. Suas reações, absolutamente humanas, refletem em vários casos o próprio espectador em sua surpresa diante do ocorrido, criando uma certa identificação com os personagens.
Em contraponto aos horrores dos pedófilos, há cenas de intensa amizade entre os policiais. A da danceteria, que eles resolvem ir para comemorar uma investigação solucionada, é demais. Todos dançam leves, soltos, felizes. É um escape do dia pesado. E há, claro, as que tocam pelo sofrimento das vítimas. Osmann, um menino obrigado a se separar da mãe, é marcante. E a do aborto, com o feto em cima da mesa? Até um mau exemplo, quando uma garota que aceitou fazer sexo oral em vários rapazes apenas para reaver o celular gera uma onda de gargalhadas nos policiais, é bem conduzida e fica hilária.
Na verdade, é um sentimento diferente atrás do outro. Há a alegria pela resolução de casos, a estupefatação pela cara de pau ou loucura dos pedófilos e a frustração pelo fracasso, mostrando distintos lados de um trabalho policial complicado que, em muitos casos, precisa superar limites de infra-estrutura e influência política.
Destaque para a atuação de JoeyStarr como Fred, o mais passional dos policiais. E para o desfecho final, que demonstra em uma cena a pressão sofrida por estes homens e mulheres da lei.
Além do elenco, mérito para Maïwenn, nascida Maïwenn Le Besco, mas apenas com o prenome na vida artística. Ela co-escreveu (com Emmanuelle Bercot) e dirigiu magistralmente o longa. Percebe-se claramente que roteiro e direção fazem a diferença. Ela é também a personagem fotógrafa, essa um tanto deslocada no roteiro (parece criada apenas para encaixar Maïwenn como atriz – mas nada que complique a trama). Isso com somente 35 anos!
Em tempo: o título com “ss” em vez do tradicional “c” é uma brincadeira sobre a forma errada com que crianças escrevem a palavra.
Polissia / Polisse
CLASSIFICAÇÃO: PARE TUDO E VÁ VER!
Ficha técnica:
Direção: Maïwenn
Elenco: Karin Viard, JoeyStarr, Marina Foïs, Nicolas Duvauchelle, Maïwenn, Emmanuelle Bercot, Frédéric Pierrot e Karole Rocher
Ano: 2011
Roteiro: Maïwenn e Emmanuelle Bercot
Duração: 127 min.
Gênero: Drama