What Happened, Miss Simone?

O que aconteceu, senhorita Simone? A pergunta do título, mantido em inglês pela Netflix, mostra a incredulidade que perpassa todo o filme. “What Happened, Miss Simone?” tenta desvendar a carreira e a vida pessoal de uma das mais controversas artistas americanas. Eunice Kathleen Waymon, ou Nina Simone, foi pianista, cantora, compositora e ativista pelos direitos civis norte-americanos. Não necessariamente nesta ordem… tudo misturado. E foi, acima de tudo, jazz na veia. 

Usando gravações inéditas, imagens raras, diários, cartas e entrevistas com pessoas próximas a ela, o documentário faz um retrato da explosão de Nina até a sua morte no ostracismo. 

“What Happened…” choca ao não conseguir definir o que aconteceu. Isso até pode soar como um erro – e eu acredito que é. Mas decifrar Nina Simone é tarefa difícil. 

A artista era o paradoxo em pessoa. Da ativista radical à esposa conformada com o marido, um ex-policial, espancador. Da luta pela liberdade e pela revolução à aceitação de uma submissão doméstica. Da força nos palcos à depressão em jamais ter realizado seu sonho de ser uma pianista clássica profissional. 

A vida de Nina parece ter sofrido revezes com um estalar de dedos. Seria ela bipolar? Anos depois, sua filha diz que sim. Isso e maníaco-depressiva. Ela foi, sim, surtada, no sentido original da palavra. Tinha surtos em casa, no palco, na vida. Largou tudo nos Estados Unidos e foi para Barbados; depois, viveu na Libéria. 

Em 1987, enquanto esquecida, voltou à fama com a gravação de My Baby Just Cares for Me, de 1958, em um comercial para o perfume Chanel Nº 5 no Reino Unido. Estourou na quarta posição na parada de singles de lá. 

Talvez por a artista ter ficado décadas no esquecimento, sem fato relevante, o filme perde o fio da meada em boa parte. Fica lento, com surtos após surtos, sem novidade. Aí está seu ponto fraco. Poderia ser mais curto, mais enxuto. 

Mas nada que atrapalhe a grandeza de Nina Simone. É preciso conhecer essa história. Suas cinzas foram espalhadas em vários países africanos. Foi no continente que ela viveu mais feliz.