O Cheiro do Ralo

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Duca

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Caramba, como é bom O Cheiro do Ralo. Não… não que eu tenha entrado na onda do protagonista Lourenço, que adora, depois de odiar, o cheiro nauseabumbo do ralo em seu “banheirinho”. Refiro-me ao filme mesmo, à obra de Heitor Dhalia baseada no livro homônimo de Lourenço Mutarelli.

Está aí um filmaço brasileiro. Na trama, Lourenço (Selton Mello) é comprador de objetos usados. Vive enfurnado em um galpão, recebendo gente de toda a sorte, quase sempre desesperada para vender algum objeto. Cercado por uma secretária (Martha Meola) e um segurança (o próprio escritor Mutarelli, absurdamente bom, divertidíssimo em um estiloso terno vinho, com sapatos também vinho), faz questão de comprar só coisas estranhas (depois sabemos o motivo). O que é mais valioso ele nem liga. Mas o que não presta, ah, ele adora. Isso tudo é regado ao maldito cheiro oriundo do ralo no banheiro de seu galpão.

Lourenço começa o filme quase normal. É noivo, come estrogonofe com batatinha ao lado da futura esposa e dirige uma Veraneio. Porém, conforme sobe o cheiro desagradável que vem do ralo, cresce a sensação de poder dele, de domínio sobre os vendedores de objetos. Ele passa a se sentir comprador de tudo… tudo mesmo, até pessoas e bundas, uma delas especialmente.

O roteiro (de Marçal Aquino e do diretor Dhalia) e a direção são um caso à parte. O filme foi quase todo rodado no galpão, com exceção de poucas cenas na casa de Lourenço e no bar onde ele se apaixona pela bunda da Balconista (Paula Braun). Aliás, é Balconista com “b” maiúsculo mesmo, pois quase todos os personagens, à exceção do protagonista, são chamados por profissões ou apelidos.

O figurino (de Patrícia Zuffa) também é super bacana. Temos o segurança vinho e Lourenço marrom. Ele só veste a cor do cocô que emana de seu ralo. E a Balconista, sainha ou shortinho, claro, para sobressair sua bunda.

Isso sem falar no ambiente, com apetrechos de tudo quanto é tipo. Afinal, ele compra só objetos estranhos. O espectador não tem ideia de que ano a história se passa. E isso é ótimo.

Agora… um caso à parte é Selton Mello. Barbaridade! Mesmo com todas essas características que já descrevi, o filme seria mediano sem ele à frente. Ele é perfeito para o papel! A voz rouca e o jeito blasé geram gargalhadas. E olha que Lourenço não é 100% bom – muitaz vezes humilha as pessoas.

O que contar mais sobre um filme que o próprio autor do livro diz gostar mais do que sua obra? Mutarelli garantiu isso. Lourenço é, por vezes, o cara que todos gostariam de ser. Fala o que quer, tem uma tiradas sensacionais, como quando um encanador vai consertar o ralo. Lourenço é, não tem mais jeito, Selton Mello. E o filme é uma das grandes obras nacionais.

O Cheiro do Ralo

Direção: Heitor Dhalia
Roteiro: Marçal Aquino e Heitor Dhalia
Elenco: Selton Mello, Silvia Lourenço, Paula Braun, Leonardo Medeiros, Flávio Bauraqui, Alice Braga, Milhem Cortaz, Martha Meola, Dionísio Neto, Lorena Lobato, Lourenço Mutarelli e Susana Alves (Tiazinha)
Gênero: Comédia
Ano: 2007
Duração: 112 min.
Figurino: Patrícia Zuffa